Alegrete apresenta vocação para múltiplas formas de geração de energia
O maior município entre os três estados da região Sul do País, com cerca de 7,8 mil quilômetros quadrados, Alegrete possui áreas que, além da cultura do agronegócio, verificam um enorme potencial para a geração de energia e de variadas fontes. Essa constatação foi ressaltada durante os três dias do Seminário de Energias Renováveis realizado no final de novembro pela prefeitura da cidade, com o Comitê Municipal Pró-Energia Eólica e Energias Renováveis, que contou ainda com a participação do Sindicato da Indústria de Energias Renováveis do Rio Grande do Sul (Sindienergia-RS).
O prefeito alegretense Márcio Amaral enfatiza que o objetivo do encontro era conseguir repassar para os mais diversificados campos da sociedade, empresários, políticos e população em geral, a importância dos projetos nesse segmento. “É um tema que se levanta como um grande potencial para a região e não é de hoje”, frisa o dirigente.
De acordo com Amaral, os atlas eólico e solar do Rio Grande do Sul apontam a localidade como apta para produções de energia dessa natureza. Ele reforça que o assunto ganha mais importância devido ao fato de o Brasil passar por uma crise energética e com os custos dos combustíveis fósseis cada vez mais altos.
O dirigente argumenta que o município tem tradição na atividade agropecuária, entretanto carece de outras opções de geração de renda. Ele acredita que o fortalecimento das energias renováveis poderá modificar o perfil da matriz produtiva regional. O prefeito acrescenta que os produtores poderão incrementar seus lucros locando áreas para a instalação de usinas ou até investir eles mesmos na geração de energia.
Já o vice-prefeito Jesse Trindade destaca que Alegrete tem condições de ser um polo de energias renováveis que vai despontar não somente no Estado, mas no Brasil inteiro. “Hoje, temos o potencial para aproveitar todos os tipos de energia alternativas e sustentáveis”, reitera. Na área eólica, por exemplo, Trindade comenta que há mais de dez anos são feitas coletas de dados e pesquisas sobre as condições de vento no município. No entanto, a falta de uma estrutura de transmissão robusta impedia um melhor aproveitamento dessa fonte, o que será resolvido com obras que estão sendo feitas nesse setor atualmente.
Na geração de energia a partir da casca de arroz, o vice-prefeito lembra que grupos como a CAAL e a Pilecco possuem experiências desenvolvidas nesse segmento em Alegrete. Ele ressalta ainda o potencial hidrelétrico da região. “Como temos muitas lavouras, existem muitas barragens que podem ser utilizadas para a produção de energia”, afirma o dirigente. Trindade diz que a prefeitura tem se esforçado em desburocratizar e agilizar os processos necessários para que os empreendimentos em energia possam ser desenvolvidos na cidade.
Por sua vez, o sócio-diretor da Geotrópico, empresa de consultoria ambiental, e integrante do Comitê Pró-Energia Eólica e Energias Renováveis, Rafael Gomes de Moura, destaca que Alegrete não tem uma usina eólica operando, mas já possui projeto com licença prévia para ser realizado na região, envolvendo ainda os municípios de Quaraí e Uruguaiana. O Complexo Eólico Três Divisas, da Ybytu Empreendimentos de Energia Renovável, prevê a capacidade de 810 MW, investimento de cerca de R$ 3,6 bilhões e o uso de quase 21 mil hectares.
O diretor do Sindienergia-RS e da Renobrax (sócia do Complexo Eólico Três Divisas), Pedro Mallmann, complementa que a base de toda a iniciativa nesse setor sempre é o atlas eólico e as medições feitas. “E essa é uma área que o atlas identifica com um potencial muito grande e uma topografia favorável, então tudo isso favoreceu”, confirma Mallmann. Ele acrescenta que o sistema local de transmissão de energia tem hoje condições de suportar parte da geração do empreendimento Três Divisas, porém, para explorar toda a capacidade, precisará ser reforçado.
O dirigente esclarece que a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) tem como conduta esperar as linhas existentes serem ocupadas pelo incremento de energia para inserir dentro do planejamento a construção de novas estruturas. “Não faz sentido abrir uma estrada nova se não há fluxo suficiente na rodovia que já está ali”, compara o diretor da Renobrax. Ele informa que o Sindienergia-RS está trabalhando no sentido de mostrar para a EPE o que está sendo desenvolvido na região para que, na medida que os projetos de geração forem avançando, seja aprimorada também a rede de transmissão.
Já no segmento de energia solar, Moura informa que há estudos comprovando que a Fronteira Oeste possui áreas com um fator de produção equivalente ou até mesmo superior ao Nordeste. Outro atrativo para a atração de investimentos nessa fonte de energia, conforme o sócio-diretor da Geotrópico, é o fato da região possuir uma questão fundiária consolidada. “Para fazer os contratos de arrendamento fica mais fácil”, detalha. Moura comenta que Alegrete possui quatro usinas fotovoltaicas sendo desenvolvidas, que variam de áreas de 5 a 15 hectares, e de 2 a 5 MW de potência.
A diretora de Operações da DGE e de Operações e Sustentabilidade do Sindienergia-RS, Daniela Cardeal, considera que o seminário no Alegrete foi uma excelente ocasião para divulgar toda a vocação da região. “Que não se restringe de forma alguma à eólica, pelo contrário, tem um potencial fantástico para solar, bioenergias e hidreletricidade. A Fronteira Oeste é uma referência em equilíbrio de fontes energéticas, com uma matriz fantástica e invejável”, salienta a dirigente.
Daniela ressalta também que é muito satisfatório observar a movimentação da municipalidade para chamar a atenção para essas qualidades. A diretora adianta que a ideia é que o Sindienergia-RS e os agentes públicos e empreendedores alegretenses, depois do evento, mantenham agora um canal de comunicação permanente.
Texto: Sindienergia-RS