Fontes renováveis no Brasil e no Rio Grande do Sul contribuirão na busca das metas da COP26
O debate promovido pela 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26) realizada em novembro em Glasgow, na Escócia, ressaltou objetivos como limitar o aquecimento global a 1,5°C, redução da emissão do gás metano e do uso do carvão, assim como a continuidade do mercado regulado de carbono – o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) que pode incentivar projetos como o de fontes sustentáveis de energia. Dentro desse cenário, por suas riquezas energéticas e diversas possibilidades de geração de menor impacto ambiental, com a hidreletricidade, eólica, solar e biomassa, brasileiros e gaúchos encontram-se em uma posição estratégica para atender aos desafios que se apresentam para o futuro.
O secretário estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura, Luiz Henrique Viana, que esteve presente no encontro na cidade escocesa, afirma que a passagem pela COP26 foi uma oportunidade para apresentar ao mundo o que o Rio Grande do Sul tem feito em termos de políticas ambientais. “Como também apresentamos nossos projetos a investidores e tomamos conhecimento do que andam fazendo pelo mundo no que se refere à sustentabilidade e ao meio ambiente”, assinala o dirigente.
Viana comenta que a missão gaúcha teve a possibilidade de tratar o tema da questão climática com autoridades sobre o assunto, como a ex-ministra do Meio Ambiente do Brasil (entre 2010 e 2016) Izabella Teixeira, que é co-presidente do painel de recursos naturais da ONU, e a diplomata francesa Laurence Tubiana, uma das principais articuladoras do acordo de Paris. Também foi possível manter contatos com o secretário adjunto especial pelo Clima dos Estados Unidos, Jonathan Pershing, com a ex-presidente da Irlanda e representante do The Elders (grupo de líderes globais), Mary Robinson, com o ministro do Meio Ambiente do Reino Unido, Zac Goldsmith, com o príncipe Charles, entre outras personalidades. O secretário frisa ainda a participação do Rio Grande do Sul no lançamento do consórcio Brasil Verde na COP26, que até aquele momento contava com 22 governadores aderindo ao grupo que busca promover políticas públicas para a sustentabilidade ambiental, transição energética e combate às mudanças climáticas.
No final de outubro, o Estado já havia firmado o compromisso de trabalhar para neutralizar as suas emissões de carbono em 50% até 2030 e agir para chegar aos 100% até 2050, foco que está em sintonia com o que o Brasil aceitou no âmbito do Acordo de Paris. “Voltamos (da COP26) cheios de expectativas e muita esperança”, diz Viana. O secretário adianta que o Estado pretende estruturar e aprofundar políticas públicas que visem o atendimento da agenda climática integrada com o desenvolvimento sustentável, a proteção do meio ambiente e a promoção do bem-estar e da saúde da população.
A ideia, segundo ele, é intensificar ações para conservar os recursos naturais e incentivar as boas práticas ambientais, o uso de fontes de energias renováveis, inclusive o hidrogênio verde, e fomentar soluções e sistemas baseados em uma economia de baixo carbono para cumprir os compromissos da diminuição das emissões. Já o engenheiro ambiental Tiago Nascimento Silva, da Clean Energy e diretor de bioenergias do Sindicato da Indústria de Energias Renováveis do Rio Grande do Sul (Sindienergia-RS), destaca que a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas deste ano foi diferente e relevante, porque desde a COP21, quando os países pela primeira vez concordaram em aceitar algumas metas, tinham restado algumas indefinições ainda a ser resolvidas.
Ele observa que houve outros encontros entre o espaço desses dois eventos, porém as turbulências econômicas e a pandemia de coronavírus atrapalharam o progresso das iniciativas. “Passaram as turbulências, a pandemia trouxe esse viés do ESG (do inglês, Environmental, Social and Corporate Governance) para o mundo todo e para as empresas também se tornou um ponto muito importante”, aponta Silva. O diretor do Sindienergia-RS acrescenta que a questão de Net Zero (neutralidade de carbono) está se incorporando em diversas companhias, sendo uma das prioridades.
Outra particularidade da COP26, cita o engenheiro ambiental, foi o fator das mídias, que praticamente fizeram uma cobertura online do encontro. “O desmatamento da Amazônia também teve grande repercussão”, relata Silva. Ele salienta ainda a participação mais assídua dos Estados Unidos nas discussões de alterações climáticas após a eleição do presidente Joe Biden.
No caso do Brasil, o diretor do Sindienergia-RS argumenta que o País enfrenta um enorme problema que é o desmatamento. Grande parcela das emissões de CO2 no território nacional é causada por essa prática, diz o engenheiro. Apesar disso, ele enfatiza que a nação é um exemplo para o planeta já que a maior parte da sua matriz elétrica é composta por fontes limpas (mais de 80%).
Sobre o Rio Grande do Sul, Silva lembra que há uma importante participação da fonte eólica na sua produção energética. Conforme dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), são cerca de 1,8 mil MW de potência em operação dessa fonte na região. “É um estado que tem esse benefício já instalado e tem um gigantesco potencial para o futuro”, adianta o diretor do Sindienergia-RS. De acordo com informações do governo gaúcho, o Rio Grande do Sul é o estado brasileiro que possui maior potencial eólico: onshore (103 mil MW em torres de 100 metros de altura e 245 mil MW em torres de 150 metros) e offshore (34 mil MW em lagoas e 80 mil MW no oceano).
Silva salienta que o Rio Grande do Sul possui um robusto setor de agronegócio, o que pode contribuir para soluções energéticas ligadas à biomassa (como a casca de arroz e resíduos florestais) e ao biogás (a partir de dejetos oriundos da produção de animais como suínos e bovinos). “Uma parte importante dessas atividades é que, além de estar gerando energia limpa, está se resolvendo um passivo ambiental”, ressalta. Já sobre o potencial fotovoltaico, o engenheiro comenta que, apesar de estar localizado no Sul do País, tendo uma incidência solar bem menor do que os estados do Norte, Nordeste ou Centro-Oeste, o Rio Grande do Sul encontra-se entre os três primeiros do ranking nacional em número de instalações e potência em relação a essa fonte, compondo o grupo com Minas Gerais e São Paulo.
Texto: Sindienergia-RS