Fortalecimento do sistema de transmissão é essencial para aproveitamento do potencial energético do Litoral Médio
Diversas regiões do Rio Grande do Sul apresentam vocação para a geração de energia, entre elas está a do Litoral Médio, área compreendida entre as cidades de São José do Norte e Capivari do Sul. No entanto, para os municípios dessa e de outras localidades poderem desenvolver projetos desse setor é necessário um fator essencial: conexão com o sistema elétrico nacional.
A diretora de Operações da DGE e diretora de Operações e Sustentabilidade do Sindicato da Indústria de Energias Renováveis do Rio Grande do Sul (Sindienergia-RS), Daniela Cardeal, informa que a entidade iniciou no ano passado diálogo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), mantendo reuniões mensais, para debater as oportunidades energéticas do Estado e os obstáculos que precisam ser resolvidos para as iniciativas seguirem adiante. A dirigente detalha que a pasta, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, analisa os projetos de geração de energia que possuem outorga para avaliar a construção de novos empreendimentos de transmissão nos estados. “Diante dessas informações, que são públicas, eles montam as previsões de linhas de transmissão que poderão conectar os complexos de geração”, explica.
Porém, Daniela comenta que, com o advento do mercado livre (formado por grandes consumidores, que podem escolher de quem vão comprar a energia), há uma tendência de mudança quanto a essa orientação. A perspectiva é ampliar o leque de dados, abrangendo propostas que eventualmente não chegaram ainda a participar de ritos do mercado regulado. Além de projetos destinados ao ambiente de contratação livre, também estão inseridos nesse contexto empreendimentos ligados à geração distribuída (GD – que produzem energia para atender a um consumo próprio).
“Estes tipo de projetos, que antes não eram enxergados, agora estão aparecendo”, frisa Daniela. Observando essa questão, o Sindienergia-RS abriu a possibilidade para seus associados apresentarem suas iniciativas, assim como para empresas não associadas, fazendo uma análise, em conjunto com a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), para propor novas linhas estruturantes de transmissão para o Rio Grande do Sul, contemplado o potencial das diversas fontes de energia.
“Com esse mapa, nós segmentamos o Estado e estamos conversando agora com os municípios de cada região”, enfatiza Daniela. Um dos grupos que está avançado nessa tratativa é o do Litoral Médio, que abrange cidades como Capivari do Sul, Palmares do Sul, Mostardas, Tavares e São José do Norte. Uma reunião entre representantes desses municípios e do Sindienergia-RS foi realizada em 23 de junho para tratar do tema. Também são parceiras da ação entidades como a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) e a Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor). Depois do encontro, foi decidido montar uma estratégia para dar prosseguimento à apresentação do potencial energético do Litoral Médio. Assim, serão feitos estudos a serem encaminhados para a EPE e para a Sema, modelo que deverá ser repetido nas outras regiões gaúchas.
O conselheiro do Sindienergia-RS, Luiz Elody Sobreiro, reforça que há ainda um enorme potencial para a implantação de novas usinas no Rio Grande do Sul, o que inclui o Litoral Médio. Ele recorda que, nos últimos anos, o Estado enfrentou um déficit na sua capacidade de escoar energia, limitando a participação de empreendimentos gaúchos em disputas de leilões em que novas plantas comercializam suas gerações. Isso foi ocasionado pelo atraso em uma série de obras de transmissão, que acabaram sendo relicitadas.
De acordo com o integrante do Sindienergia-RS, a região do Litoral Médio tem potencial para alcançar uma capacidade instalada de até 15 GW apenas em energia eólica, algo suficiente para abastecer mais de três estados como o Rio Grande do Sul. “No momento, projetos que se encontram em alguma etapa de desenvolvimento já alcançam 8,87 GW”, informa o conselheiro. De acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), já existem na região oito empreendimentos eólicos em operação, em Palmares do Sul, que somam capacidade instalada de 177,5 MW. Sobreiro acrescenta que ainda no Litoral Médio foram colocadas 29 torres anemométricas, para obter informações quanto às características dos ventos e viabilizar o desenvolvimento de novos projetos.
Outro fator que torna mais importante o reforço do sistema de transmissão no local é a possibilidade de geração eólica no mar e na Lagoa dos Patos. Além dos bons ventos, Sobreiro acrescenta que a região apresenta oportunidades para a produção fotovoltaica e pela biomassa (que utiliza matéria orgânica como combustível). “É um potencial muito grande a ser aproveitado e não pode ser desperdiçado”, defende o conselheiro.
Texto: Sindienergia-RS