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Observatório do Sindienergia-RS

Renove os hábitos, renove as energias

Missões internacionais auxiliam compreensão do setor eólico offshore

Por ser ainda uma atividade que está dando seus primeiros passos no Brasil, adquirir conhecimento em nações que já estão mais avançadas quanto à energia eólica offshore (nas águas) é uma ação essencial para o melhor desenvolvimento de empreendimentos dessa natureza no País e no Rio Grande do Sul. Dentro dessa lógica, missões para aprender com as experiências no exterior são ferramentas fundamentais.

No final de abril, integrantes do Sindicato da Indústria de Energias Renováveis do Rio Grande do Sul (Sindienergia-RS) estiveram em Atlantic City, Estados Unidos, para observar a experiência norte-americana nessa área. E agora, entre os dias 28 de maio a 4 de junho, a entidade também participará de missão liderada pela Fiergs para a Alemanha e os Países Baixos.
A diretora de Operações e Sustentabilidade do sindicato, Daniela Cardeal, ressalta que a entidade vem há algum tempo avaliando atividades para fomentar setores e desenvolver novos mercados. “Desde 2019, estamos construindo com o governo do Estado missões para observar o setor de offshore e geração eólica em lagoas”, comenta a dirigente. Naquela época, estava prevista uma viagem para o Reino Unido, que acabou não ocorrendo.
“Mas, desde então estamos sempre apresentando para os associados a orientação do sindicato de participar desses eventos”, relata Daniela. Ela recorda que o sindicato já começou 2022 tratando com a Fiergs e com o governo do Estado para retomar a ideia da missão à Europa. Conforme a diretora do Sindienergia-RS, a ação ganhou mais força ao ser associada pela Fiergs à ida que normalmente é feita à feira de Hannover, na Alemanha.
Porém, antes das agendas nos países europeus, aconteceu a IPF Offshore Wind Conference, em Atlantic City. Nos Estados Unidos, Daniela enfatiza que foi possível realizar uma excelente troca de informações com órgãos locais de regulação. Na ocasião, foi possível abordar temas como conexão, processo de licenciamento ambiental, perspectivas para essa fonte, entre outros tópicos.
A especialista em energia renováveis da embaixada norte-americana, Igly Serafim, detalha que a missão aos Estados Unidos foi uma iniciativa da área comercial da embaixada, que identificou oportunidades de colaboração entre o país e o Brasil no campo das energias limpas e renováveis. “Nesse setor de eólica offshore, vemos uma oportunidade de interação no âmbito técnico, comercial e regulatório”, frisa Igly. Ela comenta que esse mercado é também algo novo nos Estados Unidos, mas um pouco mais avançado do que no Brasil.
A integrante da embaixada norte-americana informa que nos Estados Unidos existem dois projetos-pilotos em operação de energia eólica offshore, entretanto o que representa realmente um progresso nessa área é o fato dos leilões de comercialização dessa geração já terem ocorrido. “Os primeiros empreendimentos devem entrar em operação entre 2025 e 2026”, adianta Igly.
De acordo com ela, o setor eólico offshore nos Estados Unidos foi alavancado nessa gestão do presidente Joe Biden. Ela lembra que o dirigente, nos primeiros meses de seu mandato, lançou uma proposta de implementar 30 mil MW de energia eólica offshore até 2030. Igly argumenta que essa foi a sinalização que o setor privado estava esperando para desenvolver iniciativas dessa natureza.
A especialista acrescenta que vários estados norte-americanos se comprometeram com medidas para mitigar as mudanças climáticas, instituindo metas para a adoção de uma matriz energética mais limpa. Igly enfatiza que muitas regiões da costa leste dos Estados Unidos, como Nova York, Nova Jersey e Long Island, vêm a produção eólica offshore como uma oportunidade. Porém, há planos para aproveitamentos também no golfo do México e na Califórnia. Outro local que será avaliado é a área dos grandes lagos americanos (Superior, Michigan, Huron, Erie e Ontário).
O presidente do Sindienergia-RS, Guilherme Sari, acrescenta que os principais players que possuem projetos a serem desenvolvidos no Brasil participaram do IPF Offshore Wind Conference. “Foi muito interessante porque fomos conhecer os desafios do setor e como os Estados Unidos vão trabalhar essa questão”, aponta o dirigente. Ele explica que a viagem foi importante para abordar pontos envolvidos com a implantação dos parques como logística, meio ambiente, reflexos sociais, entre outros. Em Atlantic City, diz Sari, também foi possível conhecer o projeto de uma planta eólica offshore que terá 1,5 mil MW de capacidade instalada e deverá estar operacional a partir de 2027.
Além de empreendedores da iniciativa privada e dois senadores (Jean Paul Prates – PT/RN, e Carlos Portinho - PL/RJ), compareceram no encontro nos Estados Unidos representantes de órgãos públicos, como Ibama, Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Durante a passagem pelo território norte-americano, Sari cita ainda que foi visitada a Offshore Technology Conference (OTC) 2022, em Houston. Apesar de ser uma tradicional feira de óleo e gás, o dirigente comenta que o encontro inovou agregando discussões sobre a transição energética e que o Sindienergia-RS pretende colocar este evento em suas agendas para retornar.

Alemanha e Países Baixos são exemplos de avanços na área de energia

A mudança na forma de produzir energia no planeta também será um tema abordado na feira industrial de Hannover, na Alemanha, e em várias agendas a serem realizadas nos Países Baixos. A missão promovida pela Fiergs e liderada pelo presidente da entidade, Gilberto Petry, prevê visitas técnicas a indústrias e parques eólicos offshore para tratar de energias renováveis.
O gerente da Gerência de Relações Internacionais e Comércio Exterior (GEREX) da Fiergs, Luciano D’Andrea, ressalta que a ação se trata de uma missão empresarial e governamental (já que membros do governo gaúcho farão parte da delegação). O dirigente detalha que na cidade de Hannover, onde já é realizada há anos uma tradicional feira industrial, haverá “um capítulo” em particular quanto ao tema energia para interessados nessa área. Na cidade alemã, serão visitados estandes, pavilhões e palestras para observar as tendências mundiais desse setor, principalmente, quanto às fontes renováveis e sustentáveis.
“Nos Países Baixos, além da visitação de complexos eólicos (Emmeloord e Fryslan Windpark), acontecerão agendas com o governo holandês, com representantes de pastas como meio ambiente, infraestrutura e economia”, comenta D’Andrea. Ainda está prevista a passagem pelo porto de Roterdã, para tratar de assuntos com foco em energia eólica e hidrogênio verde.
O integrante da Fiergs adianta que será uma oportunidade de aprendizado sobre a implantação de parques eólicos offhore e em lagoas, assim como para apresentar o Rio Grande do Sul para futuros empreendimentos nessa área. “O Estado tem movimentado muito essa parte de energia, sobretudo as renováveis, então vamos demonstrar isso para abrir possibilidades de investimentos e negócios”, enfatiza D’Andrea.
A missão conta com a parceria do governo do Estado, Confederação Nacional da Indústria (CNI), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-RS), Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e Escritório da Holanda no Rio Grande do Sul. Representantes de mais de 60 empresas do Rio Grande do Sul, Goiás, Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais confirmaram presença na delegação.
Como haverá uma escala em Madri, na Espanha, na chegada da missão à Europa, o presidente do Sindienergia-RS, Guilherme Sari, revela que essa passagem será aproveitada para fazer uma visita à empresa Ocean Winds (joint-venture formada pelas companhias EDP e Engie). O dirigente relata que a ideia é sugerir a formalização, futuramente, de um documento de entendimento de investimento em energia offshore no Rio Grande do Sul. “Seria algo simbólico, mas importante”, afirma Sari.
O associado do Sindienergia-RS, Dieter Gutterres Soares, ressalta que tanto o potencial do Brasil como do Rio Grande do Sul para a geração de energia eólica offshore é muito alto. Ele frisa que a possibilidade do desenvolvimento de parques na costa brasileira, mais perto de centros de cargas, como as regiões Sudeste e Sul, é uma das vantagens desse tipo de empreendimento.
Conforme Soares, a proximidade de um porto é um facilitador na questão de receber os materiais de grande porte para a construção de um complexo offshore. “E fazer a instalação em alto mar não exige adequação de rodovias”, acrescenta. O integrante do Sindienergia-RS salienta que o desenvolvimento da cadeia eólica offshore é algo ainda novo no mundo, mas alguns países já estão mais avançados nessa área como Inglaterra, Alemanha e Holanda, que já possuem complexos dessa natureza operando.
No Brasil, Soares vê o assunto evoluindo em um ritmo cada vez mais acelerado, no sentido de possibilitar a concretização de projetos no País. Ele destaca que a troca de experiência com as outras nações possibilita que empreendedores nacionais adquiram mais conhecimento sobre questões que se apresentam em temas como o regulatório e o ambiental dentro da cadeia eólica offshore.
“O principal seria trazer para cá conhecimento para podermos adequar para a nossa realidade”, argumenta Soares. Para ele, um dos maiores desafios que se apresenta para o desenvolvimento da energia eólica no mar brasileiro é a competitividade dos projetos em termos de custos.

Texto: Sindienergia-RS