Sindienergia-RS defende inserção das mulheres no setor elétrico
O mercado de energia tem nos últimos anos diversificado suas fontes, com o aumento das gerações renováveis como a eólica e a solar, no entanto não é apenas nisso que o setor está se modificando. Apesar de tradicionalmente ser um segmento predominantemente masculino, as mulheres vêm cada vez mais ocupando seu espaço na área e o Sindienergia-RS é um dos defensores dessa pauta.
A diretora de Operações e Sustentabilidade do sindicato, Daniela Cardeal, que recentemente participou do 1º Congresso Brasileiro das Mulheres da Energia, realizado em São Paulo, afirma que é preciso começar a perceber que existe muito espaço para as mulheres em profissões como as de engenharias e atividades afins. Ela considera que o congresso, que teve entre os focos o campo das energias renováveis e reuniu cerca de 700 participantes, foi essencial para se fazer uma avaliação de como está a participação feminina no setor.
“Já mostrou um enorme potencial, imagina se a gente abrir para outros eventos, com outras fontes, tem todo o setor de óleo e gás, com certeza haverá muitas mulheres mobilizadas”, projeta Daniela. Contudo, apesar da presença feminina estar aumentando dentro do setor elétrico, a diretora do Sindienergia-RS faz a ressalva que é preciso levar em conta que há ainda uma grande desproporcionalidade entre os gêneros. “Está se falando em atingir uma meta de 20% de participação de mulheres no setor (até 2024) e hoje o número não passa de 7%”, comenta.
Daniela, que também participou da construção da Rede de Mulheres na Engenharia, uma iniciativa da Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul (Sergs) e do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Sul (Crea-RS), ressalta que há um movimento para elevar o número de mulheres atuando no setor elétrico e fomentar a ocupação de cargos de liderança por elas. O próprio Sindienergia-RS pretende lançar um comitê de mulheres nas energias renováveis, que se chamará Cofem e estabelecerá uma agenda de encontros e eventos para 2022 e 2023.
“Queremos buscar, dentro dos associados do Sindienergia-RS, mulheres que já participem e que possam provocar suas colegas ou até mesmo elas crescerem dentro do setor”, destaca Daniela. Ela acredita que o fato de se ter mais homens atuando hoje no setor de energia se deve em parte a uma condição cultural. “Nós viemos de uma sociedade que está em transformação, com várias inovações fantásticas, mas culturalmente engenharias e cargos de comando e liderança eram encabeçados por homens”, argumenta.
A dirigente do Sindienergia-RS reforça que o objetivo é, de uma forma construtiva, apoiar a entrada de mulheres no mercado e profissionalizar as que já atuam no setor. “A ascendência para um cargo de tomada de decisão tem que ser por merecimento e queremos ver homens e mulheres galgando esse merecimento”, defende Daniela.
Já a idealizadora do 1º Congresso Brasileiro das Mulheres da Energia, Lúcia Abadia, considera que o encontro foi uma prova do crescimento da participação feminina nesse campo. “A gente planejou um evento para 300 mulheres, esgotamos as inscrições em menos de cinco dias e tivemos que arrumar outro espaço, porque havia mais centenas de interessadas na fila de espera”, frisa a dirigente.
Ela ressalta que as palestras serviram como uma excelente mentoria quanto ao mercado de energia. Sobre a previsão para o próximo congresso, Lúcia adianta que o encontro já está marcado para acontecer nos dias 7 e 8 de março (Dia da Mulher) de 2023, em Brasília, no hotel Royal Tulip Alvorada. A atividade será ainda maior que a primeira, com a expectativa da participação de palestrantes internacionais e um público de cerca de 1 mil pessoas.
Conforme Lúcia, que também é diretora comercial da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), ainda existe desigualdade entre homens e mulheres no setor de energias renováveis no País. Ela assinala que essa disparidade é facilmente percebida durante a realização de fóruns que tratam dos temas energéticos. “A justificativa, de alguns organizadores, é que as empresas preferem mandar os homens porque são mais livres de compromissos e que as mulheres têm muitos afazeres, além de cuidar da família, isso é totalmente machista e precisamos mudar”, diz Lúcia.
Ela acrescenta que é uma meta das mulheres estarem envolvidas em todos os processos produtivos das companhias em que atuam. A diretora da ABGD salienta que uma das explicações sobre o segmento de energia ser ainda um ambiente majoritariamente masculino é devido à maioria dos alunos de engenharia elétrica, quando esses cursos foram abertos, ser constituída de homens. “Mas, hoje isso está mudando, temos muitas mulheres engenheiras eletricistas”, atesta.
A dirigente ressalta que o objetivo de uma maior igualdade de relações não se trata de uma competição entre homens e mulheres, mas sim uma soma de esforços. Por sua vez, a cofundadora e coordenadora da Rede Brasileira de Mulheres na Energia Solar (MESol), Aline Pan, também confirma que no segmento ainda há muita discriminação. Uma das maiores reclamações das mulheres que atuam na área é a falta de reconhecimento pelo trabalho exercido.
Segundo Aline, apenas cerca de 1% das mulheres ocupam cargos de liderança (CEOs, gerências etc) nas empresas que trabalham com energia solar, sendo que as mulheres ganham 31,6% menos que os homens no setor, cumprindo a mesma função e com o mesmo tempo de experiência. “Ou seja, com o mesmo currículo é ofertado a ela 30% menos”, resume a integrante da MESol. Além disso, 80% manifestaram que já sofreram discriminação pelo fato de serem mulheres e 60% foram assediadas em seus trabalhos. Os apontamentos foram feitos pelo estudo “Barreiras e oportunidades para profissionais mulheres na energia solar no Brasil”, trabalho realizado pela organização inglesa C40, a alemã giz e a Rede Brasileira de Mulheres na Energia Solar.
Aline, que é professora e doutora em energia solar fotovoltaica, diz que poucas mulheres ascendem no setor de energia e muitas que conseguem acabam desistindo por discriminação, quando chega a maternidade ou por outros fatores. “Como é um segmento muito masculino, acaba não sendo convidativo (para as mulheres)”, aponta.
Ela reitera que a representatividade é um dos principais desafios para as profissionais que atuam no segmento. “Minhas alunas retratam isso, elas vão para uma reunião de engenharia e o que é perguntado a elas é se vão fazer café, se elas podem fazer a ata e elas são engenheiras como os outros que estão ali, mas são vistas de forma diferente. Às vezes, as pessoas acabam repetindo um comportamento sem se darem conta”, observa.
Para alterar esse cenário, Aline acredita que é preciso ocorrer uma mudança da sociedade, haver amparo legal e o comprometimento das empresas com o assunto. Ela cita como uma iniciativa nesse sentido o projeto chamado Interligadas, que além da MESol conta com o apoio, entre outras entidades, dos ministérios de Minas e Energia e da Educação e prevê um selo de compromisso para as companhias e escolas quanto à equidade de gêneros. Aline enfatiza que até 2050 a perspectiva é de o número de empregos nas energias renováveis quadriplicar, ou crescer até mais, e é importante que as mulheres tenham condições para aproveitar as oportunidades que serão abertas.
Texto: Sindienergia-RS